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Criação de Personagens "Contos de Fadas"

Criação de Personagens "Contos de Fadas" | | 2024
Projeto de criação de personagens baseado nos contos de fadas: A bela adormecida, A Bela Adormecida, . Ilustrações manuais com caneta nanquim, lápis de cor, tinta guache e tinta aquarela. 
A Bela Adormecida 
Em tempos passados, viviam um rei e uma rainha que diziam um ao outro, todos os dias de suas vidas: 
— Quem dera tivéssemos uma criança! 
Ainda assim, eles não concebiam nenhuma. Então, uma vez, quando a rainha estava se banhando, um sapo saltou para fora da água e, agachado no chão, disse-lhe:
— Teu desejo será cumprido. Antes que um ano se passe, trarás uma filha ao mundo.
Conforme o sapo havia previsto, a rainha deu à luz a uma filha tão linda que o rei não conseguiu se conter de alegria. Ele ordenou uma grande festa e não só convidou seus parentes, amigos e conhecidos, como também as mulheres sábias, a fim de que pudessem ser gentis e favoráveis para com a criança. Existiam treze delas em seu reino, mas só havia doze pratos de ouro para elas comerem e, por isso, uma teve de ser deixada de fora.
A festa foi celebrada com todo o esplendor e, à medida que se aproximava do fim, as mulheres sábias aproximaram-se para apresentar à criança seus presentes maravilhosos: uma concedeu-lhe virtude; outra, beleza; uma terceira, riquezas, e assim por diante, dando à menina tudo o que havia no mundo para se desejar. Quando onze delas já haviam dito o que vieram dizer, surgiu a décima terceira, que não fora convidada, queimando de fúria e vingança. Sem cumprimentos ou respeito, gritou em alta voz:
— No seu décimo quinto aniversário, a princesa espetará o dedo num fuso de roca e morrerá!
Sem falar mais uma palavra, ela virou-se e deixou a sala. Todos estavam apavorados com tal agouro, quando a décima segunda veio à frente, pois ainda não havia concedido o seu dom. Embora não pudesse acabar com a profecia maligna, poderia amaciá-la. Então, ela disse:
— A princesa não morrerá, mas cairá em um sono profundo durante cem anos.
Ora, o rei, desejando salvar sua filha de tal infortúnio, ordenou que todos os fusos de fiar em seu reino fossem queimados.
A princesa cresceu, adornada com todos os dons das mulheres sábias. Ela era tão linda, modesta, doce, gentil e inteligente que ninguém que a visse poderia deixar de amá-la.
Um dia, quando a menina já estava com quinze anos de idade, o rei e a rainha viajaram para o exterior, deixando a jovem sozinha no castelo. Ela vagava por todos os cantos e recantos, e em todas as câmaras e salões, como bem entendesse, até que finalmente chegou a uma antiga torre. Subiu a escada estreita e sinuosa que a levou a uma pequena porta, com uma chave enferrujada encaixada na fechadura. Ela girou a chave e a porta se abriu. Lá, no quartinho, estava sentada uma velha com um fuso, diligentemente a fiar.
— Bom dia, senhora – disse a princesa. — O que você está fazendo?
— Estou a fiar – respondeu a velha, balançando a cabeça.
— Que coisa é esta que gira tão rápida? – perguntou a moça que, tomando o fuso na mão, começou a girá-lo. Mas assim que o tocou, a profecia maligna se cumpriu e ela espetou o dedo. Nesse exato momento, a princesa tombou de costas sobre a cama e lá ficou, em um sono profundo. Este sono caiu sobre todo o castelo. O rei e a rainha, que haviam retornado e estavam no grande salão, adormeceram, e com eles toda a corte. Os cavalos em suas baias, os cães no quintal, os pombos no telhado, as moscas na parede e o fogo que acendeu na lareira dormiram como o resto. A carne no espeto parou de assar, e o cozinheiro, que estava indo puxar o cabelo do ajudante de cozinha por algum erro que ele tinha feito, deixou-o ir e foi dormir. O vento cessou, e nem uma folha caiu das árvores sobre o castelo.
Então, ao redor daquele lugar, cresceu uma sebe de espinhos que ficava mais grossa a cada ano, até que finalmente todo o castelo estava escondido e nada dele podia ser visto, exceto o cata-vento no telhado. Um rumor chegou ao exterior sobre a bela Rosamond a dormir, pois assim era chamada a princesa. De tempos em tempos, apareciam muitos filhos de reis que tentavam forçar um caminho através da sebe; mas era impossível, pois os espinhos entrelaçavam-se como mãos fortes. Os jovens acabavam sendo capturados por eles e, incapazes de se libertar, tinham uma morte lamentável.
Muitos e longos anos depois, veio para o país um príncipe que ouviu a história de um velho sobre um castelo de pé atrás da sebe de espinhos, onde jazia uma bela princesa encantada chamada Rosamond, adormecida há cem anos junto com o rei, a rainha e toda a corte. O velho ouvira de seu avô que os filhos de muitos reis tentaram atravessar a cerca, mas foram apanhados e perfurados pelos espinhos e tiveram uma morte miserável. Em seguida, disse o jovem: 
— No entanto, eu não tenho medo de tentar. Conquistarei tal sebe e verei a bela Rosamond. – O velho bondoso tentou dissuadi-lo, mas ele não quis ouvir suas palavras.
Finalmente os cem anos estavam no fim, e o dia em que Rosamond deveria ser despertada havia chegado. Quando o príncipe se aproximou da cerca de espinhos, ela transformou-se em uma cerca de belas e grandes flores, que se curvaram para deixá-lo passar, fechando-se em seguida em uma sebe espessa. Ao chegar ao pátio do castelo, o rapaz viu os cavalos e cães de caça adormecidos e, no telhado, os pombos estavam sentados com as cabeças debaixo das suas asas. Já no castelo, as moscas na parede dormiam, o cozinheiro na cozinha tinha sua mão erguida para golpear seu ajudante, e a empregada estava com a galinha d’água preta no colo, pronta para ser depenada. 
Em seguida, ele subiu mais alto e viu no salão toda a corte deitada, dormindo; acima deles, em seus tronos, dormiam o rei e a rainha. Ainda assim, o príncipe foi mais longe, e tudo estava tão silencioso que podia ouvir sua própria respiração. Finalmente, ele chegou à torre, subiu a escada em caracol e abriu a porta do pequeno quarto onde Rosamond jazia. 
Quando a viu, tão adorável em seu sono, não pôde desviar os olhos; e, então, abaixou-se e beijou-a. A princesa despertou e, ao abrir os olhos, contemplou-o gentilmente. Ela levantou-se e eles saíram juntos. O rei, a rainha e a corte inteira despertaram, olhando uns para os outros com espanto. Os cavalos no pátio levantaram-se e se sacudiram; os cães levantaram e abanaram a cauda; os pombos no telhado tiraram as cabeças de debaixo das suas asas, olharam em volta e voaram para o campo; as moscas na parede rastejaram um pouco mais longe; o fogo da cozinha pulou, brilhou e cozinhou a carne; o espeto no forno começou a assar; o cozinheiro deu um tapa tão forte no seu ajudante que ele rugiu de dor, e a empregada continuou depenando as galinhas d’água.
Em seguida, o casamento do Príncipe e Rosamond foi realizado com todo o esplendor, e eles viveram muito felizes juntos, até o final de suas vidas.

Fonte: https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos/a-bela-adormecida-jacob-e-wilhelm-grimm-1812
A Bela e a Fera
Era uma vez um rico mercador que tinha seis filhos: três meninos e três meninas. Sendo um homem sensato, ele não poupou despesas na educação das crianças e deu-lhes todo tipo de mestres. Suas filhas eram lindas, especialmente a mais nova; quando ela era pequena, todos a admiravam e a chamavam de A Pequena Bela. Conforme ela cresceu, ainda respondia pelo nome de Bela, o que deixava suas irmãs com muita inveja. A mais jovem, além de muito bonita, era melhor que suas irmãs. As duas mais velhas tinham muito orgulho por serem ricas. Elas se punham ares ridículos; não visitavam outras filhas de mercadores e nem mantinham a companhia de ninguém, exceto pessoas de qualidade. Saíam todos os dias para festas aprazíveis, bailes, peças e concertos, e riam de sua irmã mais nova porque ela passava a maior parte de seu tempo lendo bons livros. Como era sabido que as garotas teriam grandes fortunas, muitos mercadores eminentes procuravam-nas, mas as mais velhas diziam que jamais se casariam, a menos que fosse com um Duque, ou um Conde, no mínimo. Bela, muito civilmente, agradecia àqueles que a cortejavam, contudo dizia-lhes que era ainda muito jovem para se casar e escolhia ficar com seu pai ainda mais alguns anos.
De uma vez só, o mercador perdeu toda a sua fortuna, exceto uma pequena casa-de-campo muito distante da cidade. Ele disse a seus filhos, com lágrimas nos olhos, que deveriam ir lá e trabalhar para seu sustento. As duas mais velhas disseram que não deixariam a cidade, pois tinham muitos amantes que, elas tinham certeza, ficariam felizes em tê-las, mesmo ambas não tendo mais fortuna; mas nisso estavam enganadas, pois foram desprezadas e abandonadas em sua pobreza. Como as duas não eram amadas por conta de seu orgulho, todos diziam:
— Elas não merecem nossa pena. Estamos felizes por vê-las humilhadas. Deixem-nas ir e deem-lhes ares de qualidade quando ordenharem as vacas e se ocuparem dos laticínios. Mas – acrescentavam — estamos muito preocupados com a Bela. Ela era uma criatura tão charmosa, de temperamento doce, que falava tão bem com os pobres; tinha um caráter tão afável e meigo!
De fato, muitos cavalheiros teriam se casado com ela, mesmo sabendo que não tinha um tostão; mas ela lhes dissera que não pensaria em deixar seu pobre pai em apuros e estava determinada a ir com ele para o campo, a fim de consolá-lo e ajudá-lo. A pobre Bela foi uma das primeiras a ficar muito triste com a perda de sua fortuna.
— Mas – dizia a si mesma — mesmo que eu chorasse muito, isso não faria as coisas melhorarem. Devo tentar fazer-me feliz sem a fortuna.
Quando eles chegaram à casa-de-campo, o mercador e seus três filhos ocuparam-se da agricultura e da lavoura. Bela levantava-se às quatro da manhã e se apressava para limpar a casa e deixar o café-da-manhã pronto para a família. No começo, ela achou tudo muito difícil, pois não estava acostumada a trabalhar como uma serva, mas em menos de dois meses ficou mais forte e saudável do que nunca. Depois de concluir seu trabalho, ela lia, tocava o cravo, ou então cantava enquanto fiava. Ao contrário dela, suas duas irmãs não sabiam como passar seu tempo; levantavam às dez e não faziam nada exceto perambular o dia inteiro, lamentando a perda de suas roupas e companhias finas.
— Olhe só nossa irmã mais nova – diziam uma à outra. — Que criatura pobre, estúpida e vil ela é para se contentar com essa situação infeliz.
O bom mercador era de uma opinião bem diferente. Ele sabia muito bem que Bela ofuscava as irmãs, em sua pessoa e em sua mente, e admirava sua humildade, diligência e paciência; pois suas irmãs não apenas deixavam-na fazer todo o trabalho de casa, como também a insultavam a cada momento.
A família vivera um ano nesse retiro até o dia em que o mercador recebeu uma carta, com o relato de que um navio, a bordo do qual ele tinha bens, havia chegado a salvo. Essa notícia virou as cabeças das irmãs mais velhas, que imediatamente se empavonaram com esperanças de retornar à cidade. Elas estavam muito cansadas da vida no campo e, quando viram seu pai preparado para partir, imploraram para que ele comprasse novos vestidos, chapéus, anéis e toda sorte de frivolidades. Bela, ao contrário, não pediu nada, pois pensou consigo mesma que todo o dinheiro que seu pai receberia mal seria suficiente para comprar todas as coisas que suas irmãs queriam.
— O que você vai querer, Bela? – perguntou seu pai.
— Já que o senhor é tão bondoso por pensar em mim – respondeu ela —, tenha a bondade de me trazer uma rosa, pois como nenhuma cresce por esta região, são uma raridade.
Não que Bela se importasse com uma rosa, mas pediu por algo para que não parecesse por seu exemplo condenar a conduta de suas irmãs, que teriam dito que ela o fez só para chamar atenção. O bom homem seguiu em sua jornada; todavia, quando chegou lá, questionaram legalmente as mercadorias e, depois de muitos problemas e dores de cabeça sem propósito, voltou tão pobre quanto antes.
Ele estava a cinquenta quilômetros de sua casa, pensando no prazer que teria ao rever seus filhos de novo, quando, em meio a uma grande floresta, perdeu-se. Choveu e nevou terrivelmente e, além disso, o vento era tão forte que o jogou duas vezes de cima de seu cavalo. Com a noite chegando, ele começou a temer morrer de fome ou frio, ou mesmo ser devorado por lobos, que ouvia uivando à sua volta. Então, de repente, olhando por entre um longo caminho de árvores, viu uma luz à distância e, indo um pouco mais adiante, percebeu que vinha de um palácio iluminado do topo à base. O mercador agradeceu a Deus por sua feliz descoberta e apressou-se para o palácio; porém ficou muito surpreso ao não encontrar ninguém nos pátios. Seu cavalo o seguiu e, vendo um amplo estábulo aberto, entrou e encontrou feno e aveia; o pobre animal faminto comeu vorazmente. 
O mercador o amarrou à manjedoura e andou até o palácio, onde não viu ninguém; mas, entrando por um grande salão, encontrou uma lareira acesa e uma mesa muito bem servida, com apenas um lugar posto. Como havia tomado muita chuva e neve, aproximou-se do fogo para se aquecer.
— Eu espero – disse — que o mestre deste lugar, ou seus servos, perdoem a minha liberdade; suponho que não demore até que um deles apareça.
Esperou um tempo considerável, até que o relógio bateu às onze horas e ninguém apareceu. Ele estava com tanta fome que não podia mais resistir: apanhou um frango e o comeu em duas mordidas, tremendo enquanto o fazia. Depois disso, bebeu algumas taças de vinho e, ficando mais corajoso, saiu pelo corredor e cruzou por vários grandes aposentos, de mobília magnífica, até chegar a um quarto que tinha uma cama excelente; e, como estava muito fatigado e já passava da meia-noite, concluiu que era melhor fechar a porta e dormir.
Era dez horas na manhã seguinte quando o mercador acordou. No momento em que ia se levantar, ficou abismado ao ver um conjunto de belas roupas, do tamanho das suas próprias, que estavam muito estragadas.
— Certamente – disse — este palácio pertence a alguma boa fada, que viu e sentiu pena de minha aflição.
Ele olhou pela janela, mas, em vez de neve, viu os mais encantadores caramanchões, entrelaçados com as mais lindas flores que já contemplara. Então, retornou ao grande salão onde havia jantado na noite anterior e encontrou um pouco de chocolate pronto em cima de uma mesinha.
— Obrigado, boa Madame Fada – agradeceu em voz alta —, por ser tão cuidadosa e me dar um café-da-manhã; fico extremamente grato a você por todos os seus favores.
O bom homem tomou seu chocolate e foi procurar por seu cavalo. Passando por um caramanchão com rosas, lembrou-se do pedido de Bela e pegou um galho no qual havia muitas. Imediatamente, ele ouviu um grande barulho, viu uma fera medonha vindo em sua direção e quase desmaiou.
— Você é muito ingrato – rosnou a fera a ele, com uma voz terrível. — Eu salvei a sua vida ao recebê-lo em meu castelo e, em pagamento, você rouba as minhas rosas, que eu estimo mais do que qualquer coisa no universo. Mas você morrerá por isso; dou-lhe não mais que um quarto de hora para se preparar e dizer suas preces.
O mercador caiu sobre os joelhos e levantou as duas mãos:
— Meu senhor – disse —, imploro o seu perdão! De verdade, eu não tinha intenção de ofender ao apanhar uma rosa para uma de minhas filhas, que desejava que eu lhe levasse uma.
— Meu nome não é Meu Senhor – respondeu o monstro —, e sim Fera! Eu não amo elogios, não! Eu gosto de pessoas que falam o que pensam; e então não imagine que me convenço por qualquer de seus discursos bajuladores. Mas você diz que tem filhas; eu o perdoarei, com a condição de que uma delas venha por vontade própria e sofra em seu lugar. Não aceito suas palavras; siga seu caminho e jure que, se sua filha se recusar a morrer em seu lugar, você retornará dentro de três meses.
O mercador não tinha a intenção de sacrificar suas filhas a esse monstro horrendo, mas pensou que, obtendo esse adiamento, poderia ter a satisfação de vê-las uma última vez; então jurou que retornaria e a Fera lhe disse para ir embora quando quisesse.
— Mas – acrescentou — você não partirá de mãos vazias. Volte para o quarto onde dormiu e verá um baú vazio; encha-o de qualquer coisa que quiser e eu o enviarei até a sua casa.
Então, a Fera se retirou.
— Bem – disse o bom homem a si mesmo —, se devo morrer, terei o consolo de deixar ao menos alguma coisa aos meus pobres filhos.
Ele retornou ao quarto e, encontrado uma boa quantidade de pedaços largos de ouro, encheu o grande baú que a Fera mencionara, trancou-o e depois pegou seu cavalo no estábulo, deixando o palácio com tanta tristeza quanto tinha alegria ao entrar. O cavalo, sozinho, tomou um dos caminhos da floresta e, em algumas horas, o bom homem já estava em casa. Seus filhos vieram até ele mas, em vez de receber seus abraços com prazer, ele os olhou e, segurando o galho que trazia nas mãos, começou a chorar:
— Aqui, Bela – disse. — Pegue estas rosas; mas você não sabe o quanto elas custarão ao seu infeliz pai.
Então, ele relatou a sua aventura fatal. Imediatamente, as duas mais velhas lançaram clamores lamentáveis e disseram toda sorte de coisas deselegantes à Bela, que não chorara em momento algum. 
— Veja o orgulho dessa infeliz! – exclamaram elas. — Ela não pediu por roupas finas como nós, é verdade; queria ser diferente e agora será o fim de nosso pobre pai! Mesmo assim, ela sequer derrama uma lágrima!
— Por que eu deveria? – rebateu Bela. — Seria muito desnecessário, pois meu pai não sofrerá por minha causa. Já que o monstro aceitará uma de suas filhas, vou me entregar à sua fúria e estou muito feliz ao pensar que a minha morte vai salvar a vida de meu pai e será uma prova de meu terno amor por ele.
— Não, irmã – discordaram os seus três irmãos. — Isso não acontecerá. Nós vamos encontrar o monstro e ou o mataremos, ou morreremos tentando!
— Nem imaginem tal coisa, meus filhos – falou o mercador. — O poder da Fera é tamanho que eu não tenho esperança de que vocês o vençam. Estou encantado com a boa e generosa oferta de Bela, mas não posso concordar. Eu estou velho e não tenho mais muito tempo de vida, então posso perder alguns anos dela pelo que sinto apenas por vocês, minhas doces crianças.
— Na verdade, meu pai – disse Bela —, o senhor não irá ao castelo sem mim. Não pode me impedir de segui-lo.
Não adiantava nada que dissessem, Bela ainda insistia em partir para o belo palácio; e suas irmãs adoraram a ideia, pois sua virtude e qualidades amáveis as deixavam com inveja e ciúmes.
O mercador estava tão aflito com a ideia de perder sua filha que esqueceu completamente o baú cheio de ouro. Mas à noite, quando se retirara para dormir, tão logo fechou a porta de seu quarto, ele o achou ao lado de sua cama. Estava determinado, porém, a não dizer aos filhos que havia ficado rico, porque eles desejariam retornar à cidade e ele não queria deixar o campo; mas confiou à Bela o segredo. Ela o informou que, em sua ausência, dois cavalheiros vieram e cortejaram suas irmãs; ela implorou ao pai para consentir os casamentos e dar-lhes a fortuna, pois ela era tão boa que perdoava de coração todas as desfeitas das mais velhas. Essas criaturas malvadas chegaram a esfregar cebola nos olhos para forçar algumas lágrimas quando se despediram da irmã; porém, seus irmãos ficaram preocupados. Bela era a única que não derramou lágrimas ao partir, pois não queria aumentar a aflição deles.
O cavalo tomou a estrada direta para o palácio; e, pela noite, eles o perceberam iluminado como da primeira vez: o cavalo foi sozinho para o estábulo, e o bom homem e sua filha seguiram até o grande salão, onde encontraram uma mesa servida esplendidamente e dois lugares postos. O mercador não tinha vontade de comer, mas Bela se esforçou para parecer animada; sentou-se à mesa e se serviu. Depois, pensou consigo mesma:
A Fera certamente busca engordar-me antes de me comer, já que provê tamanha abundância.
Assim que jantaram, ouviram um grande barulho, e o mercador, aos prantos, deu adeus à sua filha, pois sabia que a Fera se aproximava. Bela estava tristemente aterrorizada por sua forma horrenda, mas tomou tanta coragem quanto podia. O monstro perguntou se ela viera por vontade própria:
— Sim... – respondeu, trêmula.
— Você é muito boa, e fico agradecido a você. Homem honesto, siga seu caminho pela manhã, mas nunca pense em retornar a este lugar. Adeus, Bela.
— Adeus, Fera – ela respondeu, e imediatamente o monstro se retirou.
— Ó, filha! – disse o mercador, abraçando-a. — Estou quase morto de susto. Acredite em mim, é melhor você voltar e me deixar ficar aqui.
— Não, pai – falou Bela, resoluta. — O senhor partirá amanhã de manhã e me deixará aos cuidados e proteção da Providência.
Eles foram para a cama e pensaram que não dormiriam a noite inteira, mas mal se deitaram e caíram em sono profundo. Bela sonhou que uma Linda Dama vinha até ela e dizia:
— Fico contente, Bela, com sua boa vontade; essa sua ação de dar sua própria vida para salvar a de seu pai não será em vão. 
Bela acordou e contou seu sonho ao seu pai. Ela achou que isso ajudou a consolá-lo um pouco mais, mas ele não conseguiu deixar de chorar amargamente quando teve de deixar sua querida filha.
Tão logo ele partira, Bela sentou-se no grande salão e também começou a chorar. Todavia, como era uma senhorita de muita determinação, recomendou-se a Deus e resolveu não ficar apreensiva no pouco tempo que ainda tinha para viver, pois acreditava firmemente que a Fera a devoraria naquela noite.
Contudo, pensou que podia muito bem andar um pouco até então e observar esse belo castelo que não podia deixar de admirar. Era um lugar muito agradável, e ela ficou muito surpresa ao ver uma porta em que estava escrito: “Aposentos de Bela”. Ela a abriu depressa e ficou deslumbrada com a magnificência que reinava naquele lugar; mas o que mais chamou sua atenção foi uma grande biblioteca, um cravo, e muitos livros de música.
— Bom – disse a si mesma. — Vejo que não desejam me entediar, já que tenho tanto o que fazer. Se fosse para passar um dia aqui – refletiu —, não haveria necessidade de tanto preparo.
Esse pensamento deu-lhe coragem renovada e, abrindo a biblioteca, pegou um livro e leu essas palavras em letras douradas:
“Bem-vinda, Bela, 
 Esqueça o medo que te invade.
 Aqui é rainha, é senhora;
 Diga seus desejos, sua vontade
 E serão cumpridos sem demora.”
— Infelizmente – suspirou —, não há nada que deseje mais que ver meu pobre pai e saber o que ele faz.
Tão logo disse isso e, ao pôr os olhos em um grande espelho, ela viu sua própria casa, onde seu pai chegava com um ar abatido. Suas irmãs foram encontrá-lo e, inobstante seus esforços para parecerem tristes, sua alegria por ter-se livrado de sua irmã era visível em cada gesto. Um momento depois, tudo desapareceu, assim como a apreensão de Bela diante desta prova da complacência da Fera.
Ao meio-dia, ela encontrou o almoço servido e, à mesa, foi contemplada com um excelente concerto musical, ainda que não visse ninguém. Mas à noite, quando ia se sentar para jantar, ouviu o barulho que a Fera fazia e não conseguiu evitar sentir-se aterrorizada.
— Bela – disse o monstro —, não vai me dar permissão de vê-la jantar?
— Como você quiser – concordou Bela, tremendo.
— Não! – respondeu a Fera. — Você é a senhora aqui; precisa apenas pedir que eu vá. Se minha presença é incômoda, eu imediatamente me retirarei. Mas, diga-me, não me acha muito feio?
— É verdade – disse Bela —, pois não posso mentir. Porém, acredito que você é bondoso.
— Sou sim – concordou o monstro. — Porém, além de minha feiura, não tenho sensibilidade. Eu sei muito bem que sou uma criatura pobre, tola, estúpida.
— Não é sinal de tolice pensar assim – falou Bela —, pois nunca um tolo pensou isso, ou teve tão humilde conceito de seu próprio entendimento.
— Então coma, Bela – disse o monstro —, e tente se divertir em seu próprio palácio, pois todas as coisas aqui são suas, e eu ficaria muito incomodado se você não estivesse feliz.
— Você é muito afável – ela respondeu. — Eu mesma estou muito satisfeita com a sua gentileza e, quando penso nisso, a sua deformidade mal aparece.
— Sim, sim – disse a Fera. — Meu coração é bom, mas ainda sou um monstro.
— Entre a humanidade – continuou Bela — há muitos que merecem esse nome mais do que você. Eu prefiro você, assim como é, àqueles que, sob forma humana, escondem um coração traiçoeiro, corrupto e ingrato.
— Se eu tivesse sensibilidade o suficiente – falou a Fera —, faria um belo elogio para agradecê-la, mas sou tão enfadonho que só posso dizer que lhe agradeço muito.
Bela comeu uma bonita ceia e havia quase superado seu medo do monstro, porém sentiu que desmaiaria quando ele lhe perguntou:
— Bela, você seria a minha esposa?
Ela demorou um tempo antes de dar-lhe a resposta, pois estava com medo de deixá-lo zangado se recusasse. Enfim, porém, disse, tremendo:
— Não, Fera.
Imediatamente, o pobre monstro começou a suspirar e sibilar tão assustadoramente que todo o lugar ecoava. Mas Bela logo se recuperou do medo, pois a Fera disse, em uma voz fúnebre:
— Então adeus, Bela. – E deixou a sala, virando-se de vez em quando para olhá-la enquanto saía.
Quando Bela ficou só, sentiu muita compaixão pela pobre Fera.
— Infelizmente – lamentou —, é muito triste que algo tão bondoso seja tão feio.
Bela passou três meses muito felizes no palácio. Todas as noites, a Fera a visitava e falava com ela durante a ceia, muito racionalmente, com muito bom-senso, mas nunca com o que o mundo chama de argúcia; e Bela diariamente descobria alguma nova qualidade do monstro. Vendo-o frequentemente, havia se acostumado à sua deformidade de tal modo que, em vez de temer a hora de sua visita, ela muitas vezes olhava o relógio para ver quando seriam nove horas, pois a Fera nunca deixava de aparecer àquela hora. Havia apenas uma coisa que a preocupava: toda noite, antes de ir para a cama, o monstro sempre a perguntava se ela seria sua esposa. Um dia, ela respondeu:
— Fera, você me deixa incomodada. Eu queria poder concordar em ser sua esposa, mas sou muito sincera para fazer você acreditar que isso um dia vai acontecer. Eu sempre o estimarei como amigo; tente ficar satisfeito com isso.
— Eu preciso – disse a Fera —, pois infelizmente sei muito bem de meu infortúnio; mas eu a amo com toda a minha afeição. Contudo, devo me considerar feliz por você estar aqui. Prometa que nunca me deixará.
Bela ruborizou diante destas palavras. Ela havia visto em seu espelho que seu pai estava doente por causa de sua perda e ela queria vê-lo de novo.
— Eu poderia – respondeu — prometer de verdade nunca o deixar por completo, mas tenho um desejo tão grande de rever meu pai que morrerei de tristeza se me recusar essa satisfação.
— Preferiria eu mesmo morrer – falou o monstro — a dar-lhe a menor preocupação: eu a mandarei até seu pai. Você ficará com ele, e a pobre Fera morrerá de tristeza.
— Não – disse Bela, chorando. — Eu o amo demais para ser a causa de sua morte: dou-lhe minha palavra de que retornarei em uma semana. Você me mostrou que minhas irmãs estão casadas e que meus irmãos partiram para o exército. Apenas deixe-me passar uma semana com meu pai, que está só.
— Você estará lá amanhã de manhã – assegurou a Fera. — Mas lembre-se de sua promessa: você só precisa por seu anel na mesa antes de ir para a cama quando decidir retornar. Adeus, Bela.
A Fera suspirou como de costume, desejando-lhe boa noite, e Bela foi dormir muito triste por vê-lo tão aflito. Quando ela acordou na manhã seguinte, estava na casa de seu pai e, ao tocar um sinete que estava ao lado de sua cama, viu uma empregada entrar que, ao vê-la, deu um grito. O bom homem correu escada acima e achou que morreria de tanta felicidade ao ver sua querida filha novamente. Ele a segurou nos braços por um bom quarto de hora. Logo que o entusiasmo inicial arrefeceu, Bela começou a pensar em levantar e teve medo de não encontrar roupas para usar, mas a empregada disse-lhe que acabara de descobrir, no quarto ao lado, um grande baú cheio de vestidos cobertos de ouro e diamantes. Bela agradeceu à boa Fera por seu cuidado e, pegando um dos mais simples, pensou em dar os outros de presente a suas irmãs. Mal ela disse isso, o baú desapareceu. Seu pai lhe disse que a Fera insistia que ela mesma ficasse com eles; e imediatamente os vestidos e o baú voltaram de novo.
Bela se vestiu e, enquanto isso, mandaram buscar as irmãs, que se apressaram para lá com os maridos. Elas estavam muito infelizes. A mais velha se casara com um cavalheiro extremamente belo, é verdade, mas tão apaixonado por sua própria pessoa que só queria saber de si mesmo e menosprezava a esposa. A segunda casara com um homem de argúcia, contudo ele só fazia uso dela para atormentar todo mundo, sua esposa principalmente. As irmãs de Bela adoeceram de inveja quando a viram vestida como uma princesa e mais linda do que nunca; nem toda sua amabilidade podia aplacar sua inveja, que já estava prestes a explodir quando ela lhes disse como estava feliz. Elas foram até o jardim espairecer, aos prantos, e uma disse à outra:
— No que essa criaturinha é melhor que nós para ser tão mais feliz?
— Irmã – falou a mais velha —, um pensamento me veio à mente: vamos tentar mantê-la ocupada por mais de uma semana e talvez o monstro estúpido fique tão enraivecido por ela ter quebrado sua palavra que a devore!
— Certo, irmã – respondeu a outra. — Já que é assim, devemos demonstrar a ela o máximo de bondade possível.
Depois de terem decidido fazer isso, ambas voltaram e se comportaram tão afetuosamente com sua irmã que a pobre Bela chorou de alegria. Quando a semana acabou, elas choraram, arrancaram os cabelos e pareceram tão tristes por se separarem dela que Bela prometeu ficar mais uma semana.
Enquanto isso, Bela não podia evitar pensar na aflição que certamente causaria à pobre Fera, a quem ela sinceramente amava e desejava ver novamente. Na décima noite que passou na casa de seu pai, sonhou que estava no jardim do castelo e que via a Fera estendida no gramado e que, quase morrendo e com uma voz moribunda, reprovava a sua ingratidão. Bela acordou assombrada e chorou copiosamente.
— Eu sou muito má – disse — por agir tão cruelmente com a Fera, que tentou tanto me agradar em tudo! É culpa dele ser tão feio e ter tão pouca sensibilidade? Ele é generoso e bom, e isso é suficiente. Por que neguei casar-me com ele? Eu devia estar mais feliz com o monstro do que minhas irmãs com seus maridos. Não é argúcia ou beleza em um marido que fazem uma mulher feliz, e sim virtude, docilidade e complacência; e a Fera tem todas essas qualidades valiosas. É verdade, eu não sinto a ternura do afeto por ele, mas sei que tenho a maior gratidão, estima e amizade. Eu não vou fazê-lo infeliz. Se eu fosse tão ingrata, jamais me perdoaria.
Tendo dito isso, Bela levantou-se, pôs seu anel na mesa e deitou-se novamente. Assim que deitou, ela caiu no sono e, quando acordou na manhã seguinte, ficou exultante por estar novamente no castelo da Fera. Ela pôs um de seus mais belos vestidos para agradá-lo e esperou pela noite com a maior impaciência. Enfim, a tão esperada hora chegou; o relógio bateu às nove horas, mas a Fera não apareceu. Bela então temeu ter sido a causa de sua morte. Correu chorando e torcendo suas mãos pelo palácio, como uma desesperada. Depois de ter procurado em todo lugar, lembrou-se de seu sonho e correu até o canal no jardim, onde sonhou que o vira. Lá, encontrou a pobre Fera esticada, sem sentidos e, como imaginara, morta. Ela se jogou sobre ele sem medo algum e, descobrindo que seu coração ainda batia, pegou água no canal e derramou sobre sua cabeça. A Fera abriu seus olhos e disse-lhe:
— Você esqueceu a sua promessa e eu fiquei tão aflito por perder você que decidi morrer de fome. Mas como tive a felicidade de ver você novamente, morro satisfeito.
— Não, querida Fera – falou Bela. — Você não pode morrer. Viva para ser meu marido! Deste momento em diante, eu lhe dou a minha mão e juro não ser de ninguém exceto você. Ai! Eu achei que lhe tinha apenas amizade, mas a tristeza que sinto agora me convence que não posso viver sem você.
Bela mal pronunciou essas palavras e viu o palácio brilhar em luzes; e fogos-de-artifício, instrumentos musicais, tudo parecia dar notícia de algum grandioso evento. Mas nada chamava a sua atenção; ela se virou para sua querida Fera, por quem tremera de medo, e qual não foi a sua surpresa! A Fera desaparecera e ela viu, aos seus pés, um dos mais belos príncipes que já contemplara, que agradeceu por ter posto um fim em sua maldição de ter sido por tanto tempo uma Fera. Apesar desse príncipe merecer toda sua atenção, ela não pôde evitar perguntar onde estava sua Fera.
— Você o vê aos seus pés – disse o Príncipe. — Uma fada malvada me condenou a permanecer sob aquela forma até que uma bela virgem concordasse em se casar comigo. A fada também me ordenou a esconder esse fato; apenas você poderia ser generosa o suficiente para se deixar levar pela bondade de meu coração e, mesmo oferecendo-lhe minha coroa, eu não posso me desincumbir das obrigações que tenho para com você.
Bela, justificadamente surpresa, deu ao encantador Príncipe sua mão para que se levantasse. Eles foram juntos ao castelo e ela ficou extasiada ao ver, no grande salão, seu pai e toda sua família, a quem a Linda Dama, que aparecera em seu sonho, tinha trazido até lá.
— Bela – disse a Dama —, venha e receba a recompensa de suas escolhas sensatas. Você preferiu a virtude à argúcia ou à beleza, e merece achar uma pessoa na qual todas essas qualidades estão unidas. Você será uma grande rainha, e eu espero que o trono não diminua sua virtude ou a faça esquecer quem é. Quanto a vocês, damas – disse a Fada às duas irmãs —, conheço seus corações e toda a malícia que contêm. Tornem-se duas estátuas, mas mesmo transformadas, ainda mantenham a sua razão. Vocês ficarão em frente ao portão do palácio de sua irmã, e que seja sua punição contemplar a sua felicidade. Não estará em seu poder retornar ao seu estado natural até que superem suas falhas, todavia temo que vocês sejam estátuas para sempre. Orgulho, raiva, gula e preguiça são às vezes conquistadas, porém a conversão de uma mente maliciosa e invejosa é um tipo de milagre.
Então, a Fada deu-lhes um golpe com sua varinha e, em um momento, todos que estavam no salão foram transportados ao palácio do Príncipe. Seus súditos o receberam com alegria e ele se casou com Bela e viveu com ela por muitos anos; e sua felicidade, por ser fundada na virtude, era completa.

Fonte: https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos/a-bela-e-a-fera-jeanne-marie-leprince-de-beaumont-1756
Branca de Neve
Certo dia, no mais frio do inverno, quando flocos de neve do tamanho de penas pendiam do céu, uma rainha estava costurando, sentada perto de uma janela com moldura de ébano. Enquanto costurava, olhou para a neve, espetando o dedo na agulha, e três gotas de sangue caíram sobre a neve alvíssima.
O vermelho era tão bonito sobre o branco da neve que a rainha exclamou: 
— Gostaria de ter uma filha branquinha como a neve, com a boca vermelha como o sangue e os cabelos tão negros como a moldura de ébano da minha janela. 
Pouco tempo depois, deu à luz uma menininha que era branca como a neve, tinha os lábios vermelhos como o sangue e os cabelos negros como o ébano. Por isso, recebeu o nome de Branca de Neve. A rainha morreu logo após o nascimento da criança.
Um ano depois, o rei se casou com outra mulher. Era uma belíssima dama, porém muito orgulhosa e arrogante, não tolerava a ideia de que alguém pudesse ser mais bonita do que ela. Possuía um espelho mágico e, sempre que ficava diante dele para se admirar, perguntava:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu:
— Ó, Rainha, sois de todas a mais bela.
Então, ela sorria feliz, pois sabia que o espelho sempre falava a verdade.
Branca de Neve estava crescendo e a cada dia ficava mais e mais formosa. Quando chegou à idade de sete anos, ficou tão bonita quanto o dia brilhante e mais bela do que a própria rainha. Um dia, a madrasta perguntou ao espelho:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu:
— Minha Rainha, sois muito bela ainda, mas Branca de Neve é mil vezes mais linda.
Ao ouvir estas palavras, a rainha começou a tremer e seu rosto ficou verde de inveja. A partir daquele momento, passou a odiar Branca de Neve. Sempre que seus olhos pousavam nela, sentia seu coração frio como uma pedra. A inveja e o orgulho brotaram como ervas daninha em seu coração. De dia ou de noite, ela não tinha um momento de paz.
Um dia, chamou o caçador e ordenou:
— Leve a menina para a floresta. Nunca mais quero vê-la novamente. Traga-me seus pulmões e seu fígado como prova de que a matou.
O caçador obedeceu e levou a princesinha para um passeio na floresta. Em certo momento, Branca de Neve virou de repente e se deparou com o caçador com uma faca na mão, pronto para desferir-lhe um golpe mortal. Inocente, começou a chorar e a suplicar:
— Ai, querido caçador, poupe minha vida. Eu prometo correr para a floresta e nunca mais voltar.
Branca de Neve era tão bonita que o caçador teve pena dela e disse:
— Fuja, pobre criança.
Os animais selvagens irão devorá-la antes do tempo, pensou. E sentiu como se um grande peso fosse tirado de seu peito, pois não queria matar a menina. Naquele instante, passou ali um filhote de javali e o caçador o matou a estocadas, retirando em seguida seus pulmões e seu fígado para levá-los à rainha. Retornando ao palácio, entregou os órgãos à perversa que, exultante de satisfação, levou pessoalmente ao cozinheiro, dando-lhe instruções para fervê-los em salmoura. Depois de preparados, a rainha os comeu, pensando que estava se alimentando dos restos mortais da enteada.
Neste ínterim, a pobre menina vagava sozinha na vasta floresta. Estava muito assustada e começava a escurecer. Cada árvore e cada galho parecia tomar formas fantasmagóricas. Desesperada, pôs-se a correr cada vez mais adentro, embrenhando-se na mata, passando sobre pedras pontiagudas e arbustos espinhosos. De vez em quando, feras passavam por ela, mas não lhe faziam mal. Ela corria tão apavorada que mal sentia as pernas.
Ao cair da noite, viu ao longe uma pequena cabana e entrou para se abrigar. Nessa casa, todas as coisas eram minúsculas, mas tudo indescritivelmente limpo e organizado. Havia uma mesinha com sete pratinhos sobre uma toalha muito branca. Cada pratinho tinha uma colher pequena e, ao lado, sete garfinhos e sete faquinhas, sem esquecer as sete canequinhas. Sedenta e com fome, Branca de Neve comeu algumas verduras, um pouco de pão de cada pratinho e tomou um gole de vinho de cada canequinha. Do outro lado, viu sete caminhas enfileiradas e, extenuada por tantas emoções, tentou deitar nelas, mas parecia não lhe caber. A primeira era muito longa, a segunda muito curta, já a sétima caminha era perfeita. Então, ela fez sua oração e adormeceu profundamente.
Estava escuro lá fora quando os donos da casa retornaram. Eram sete anões garimpeiros que passavam o dia nas montanhas, escavando a terra em busca de minérios. Acenderam suas sete lanterninhas e, quando a casa se iluminou, perceberam que alguém tinha estado lá, pois nem tudo estava do jeito que tinham deixado.
O primeiro anão perguntou:
— Quem sentou na minha cadeirinha?
O segundo perguntou:
— Quem comeu no meu pratinho?
O terceiro perguntou:
— Quem comeu o meu pãozinho?
O quarto perguntou:
— Quem comeu minhas verdurinhas?
O quinto perguntou:
— Quem usou meu garfinho?
O sexto perguntou:
— Quem cortou com a minha faquinha?
O sétimo, enfim, perguntou:
— Quem bebeu na minha canequinha?
O primeiro anão olhou ao redor, reparou que seu lençol estava amassado, e disse:
— Quem subiu na minha caminha?
Os outros vieram correndo e cada um gritava: “Alguém dormiu na minha cama também”. Até que os olhos do sétimo anão caíram sobre sua pequena cama e viram Branca de Neve ali, dormindo. Começou a gritar, chamando os outros que prontamente acudiram e ficaram tão assombrados que todos ergueram suas sete lanterninhas para ver melhor Branca de Neve.
— Meu Deus, meu Deus! – exclamavam boquiabertos. — É a mais bela criança que já vimos!
Os anões ficaram tão encantados com a princesinha que resolveram não acordá-la e deixaram-na dormindo na caminha. O sétimo anão dormiu por uma hora com cada um de seus companheiros durante a noite.
Pela manhã, Branca de Neve acordou. Quando viu os anõezinhos em volta de sua cama, olhando para ela, ficou bem assustada, mas eles foram muito amáveis e perguntaram:
— Qual é o seu nome?
— Meu nome é Branca de Neve – ela respondeu.
— Como você chegou à nossa casa?
Branca de Neve contou tudo que lhe acontecera, de como a madrasta mandou matá-la e como o caçador poupara sua vida. Contou que saiu correndo pela floresta por várias horas até chegar à cabana deles.
Os anões lhes disseram:
— Se cozinhar, arrumar as camas, lavar, costurar, tricotar e manter tudo limpo e organizado, pode ficar conosco, e nós vamos dar-lhe tudo que precisa.
— Sim, com prazer – ela respondeu.
Desde esse dia, Branca de Neve passou a cuidar da casa para os anões. De manhã bem cedo, eles saíam para trabalhar no alto das montanhas em busca de ouro e prata. Ao cair da noite, voltavam e encontravam um gostoso jantar prontinho, à espera deles. Como a menina passava os dias sozinha, os bons anões recomendaram seriamente: 
— Cuidado com sua madrasta. Em breve, ela vai saber que você está aqui. Não deixe ninguém entrar na casa.
A rainha, porém, acreditando que havia comido os pulmões e o fígado de Branca de Neve, estava certa de que agora era a mulher mais linda do mundo. Foi até o espelho e perguntou:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu:
— És sempre bela, minha Rainha. Mas na colina distante, cercada por sete anões, Branca de Neve ainda vive e floresce, e sua beleza jamais foi superada.
Ao ouvir essas palavras, a rainha ficou abismada, pois sabia que o espelho era encantado e por isso não podia mentir. Depois, quase explodiu de tanto ódio ao compreender que o caçador a enganara e que Branca de Neve continuava viva. Não perdeu tempo e, cheia de inveja, pôs-se imediatamente a maquinar uma maneira de se livrar dela.
Desceu aos porões do castelo onde costumava praticar feitiçaria e, utilizando seus conhecimentos de bruxa, ficou irreconhecível, tornando-se semelhante a uma velha. Nesse disfarce, viajou para além das sete colinas até a casa dos sete anões. Lá chegando, fingiu ser uma vendedora e anunciou:
— Belas mercadorias, preço excelente.
Ouvindo isso, Branca de Neve olhou pela janela e disse:
— Bom dia, minha senhora. O que você tem para vender?
— Coisas boas, coisas bonitas – a bruxa respondeu. — Os mais finos cordões para corpete. – E puxou rendas e tecidos de seda de muitas cores.
Eu posso deixar esta boa mulher entrar, pensou Branca de Neve e, correndo o ferrolho da porta, comprou o cordão mais bonito.
A bruxa, muito esperta, disse:
— Ó, minha filha, você é tão bonita, mas está tão desarrumada. Venha, deixe que eu arrume o cordão para você.
Branca de Neve, completamente inocente, colocou-se diante da velha e deixou que ela lhe arrumasse. A perversa apertou tanto o cordão e tão depressa que Branca de Neve ficou sem fôlego e caiu desmaiada, como se estivesse morta.
— Agora quero só ver quem é afinal a mais bela de todas – disse a velha, que logo saiu correndo.
Não demorou a anoitecer e os sete anões voltarem para casa. Quando entraram, deram com sua amada Branca de Neve estendida no chão e ficaram horrorizados. Ela não se movia, e eles acreditavam que ela estivesse morta. Ergueram-na para colocá-la sobre a cama, quando perceberam o cordão do corpete fortemente amarrado e, então, o cortaram em dois. A princesinha começou a respirar e pouco a pouco voltou à vida. Quando os anões souberam o que tinha acontecido, advertiram:
— A velha vendedora era a rainha disfarçada. Tome mais cuidado e não deixe ninguém entrar, a menos que estejamos em casa.
Assim que chegou ao castelo, a primeira coisa que a rainha fez foi dirigir-se ao espelho e perguntou:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu como sempre fazia:
— Aqui está a mais bela, minha Rainha querida. Branca de Neve ainda vive e floresce e sua beleza jamais foi superada.
Ao ouvir as palavras do espelho, a rainha ficou possessa de raiva e o sangue gelou em suas veias.
— Mas desta vez – ela disse –, vou sonhar com algo que irá destruí-la.
Usando toda bruxaria em seu poder, ela criou um pente envenenado. Então, mudou de roupa e se disfarçou mais uma vez como uma velha mulher. Viajou para além das sete colinas, até a casa dos sete anões, bateu à porta e gritou:
— Belas mercadorias, preço excelente.
Branca de Neve olhou pela janela e disse:
— Vá embora, não posso deixar ninguém entrar.
— Mas você pode pelo menos dar uma olhada – disse a velha, que tirou o pente envenenado e ergueu-o no ar.
A princesinha gostou tanto que, completamente inocente, abriu a porta. Quando acordaram o preço, a velha afirmou:
— Agora vou dar ao seu cabelo um bom penteado.
A pobre Branca de Neve não suspeitou de nada e deixou a mulher seguir em frente. Assim que o pente tocou seus cabelos, o veneno fez efeito e a menina caiu sem sentidos no chão.
— Você está acabada – disse a malvada mulher, correndo para longe.
Felizmente, os anões estavam a caminho da cabana, pois era quase noite. Quando chegaram, viram Branca de Neve no chão como se estivesse morta e suspeitaram da madrasta imediatamente. Ao examiná-la, descobriram o pente envenenado. Logo que o puxaram, Branca de Neve recobrou à vida e disse-lhes o que tinha acontecido. Novamente, avisaram-na para não para abrir a porta a ninguém.
No castelo, em frente ao espelho a rainha perguntou:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu como antes:
— Aqui está a mais bela, minha Rainha querida. Branca de Neve é a mais bela que já vi.
— Branca de Neve tem que morrer! – vociferou. — Mesmo que me custe a vida.
A rainha entrou no calabouço, onde ninguém jamais pôs os pés, e fez uma maçã envenenada. A aparência da fruta encantada era maravilhosa – branca com as faces vermelhas –, se você a visse, você ansiaria comê-la. Mas bastaria a menor mordida para levar-lhe à morte.
Assim que terminou de preparar a maçã enfeitiçada, usando de artimanhas, transmutou-se desta vez na forma de uma velha camponesa e partiu para além das sete colinas, até a casa dos sete anões.
A bruxa bateu à porta. Branca de Neve olhou pela janela e disse:
— Não posso deixar ninguém entrar. Os sete anões não permitem isso.
— Está tudo bem – respondeu a velha camponesa. — Vou me livrar das minhas maçãs em breve. Aqui, vou lhe dar uma.
— Não – disse Branca de Neve. — Não devo aceitar nada de estranhos.
— Você tem medo de que esteja envenenada? – perguntou a velha. — Olhe, vou cortar a maçã ao meio. Você come a metade vermelha e eu como a outra branca.
A maçã havia sido feita de modo astucioso, apenas a parte vermelha tinha veneno. Branca de Neve estava com água na boca de tanto desejo pela bonita maçã e, quando viu a camponesa morder seu pedaço, não resistiu. Estendeu a mão para fora da janela e pegou a outra metade. Assim que mordeu, caiu morta no chão. A rainha, triunfante, olhou-a caída e desatou a rir:
— Branca como a neve, boca vermelha como o sangue, cabelos negros como o ébano! Desta vez, aqueles horríveis anões não conseguirão trazê-la à vida.
Chegando ao castelo, dirigiu-se de imediato ao espelho mágico e perguntou:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
E, finalmente, a resposta:
— Ó Rainha, sois vós a mais bela do reino.
E a invejosa rainha mal podia se conter de tanta felicidade.
Ao cair da noite, os anões voltaram para casa e encontraram Branca de Neve caída no chão. Nem um sopro de ar em seus lábios. Ela estava morta. Ergueram-na para procurar algo em volta que pudesse ser venenoso. Desamarraram-lhe o corpete, pentearam-lhe o cabelo, lavaram-na com água e vinho, mas tudo foi em vão. A criança querida se fora e nada poderia trazê-la de volta. Depois de colocá-la em um esquife, todos os sete anões se sentaram ao redor e a velaram. Choraram a mais profunda tristeza durante três dias. Estavam prestes a enterrá-la, mas ela ainda parecia tão viva com belas bochechas vermelhas.
Um dos anões disse:
— Não podemos enterrá-la.
E, então, construíram um caixão de vidro transparente, que permitia Branca de Neve ser vista por todos os lados, com inscrições em ouro com seu nome e os dizeres que ali estava a filha de um rei. Levaram o caixão até o topo de uma montanha e mantinham sempre um deles em vigília. Os animais também foram lamentar por Branca de Neve; primeiro uma coruja, depois um corvo e, por último, uma pomba.
Branca de Neve permaneceu no caixão por um longo e longo tempo. Entretanto, seu corpo não se decompôs e dava a impressão de estar dormindo. Suas feições continuavam as mesmas, branca como a neve, boca vermelha como o sangue e cabelos negros como o ébano.
Certo dia, o filho de um poderoso rei atravessava a floresta quando chegou à casa dos anões para pedir hospedagem por uma noite. Quando subiu no alto da montanha, à procura dos donos da cabana, deparou-se com o caixão com a bela Branca de Neve deitada dentro dele, rodeado pelos sete anões. Leu os dizeres em letras douradas e, encantado com a beleza da princesinha, disse:
— Deixai-me levar o caixão. Eu darei o que pedirem.
Os anões responderam:
— Nós não venderíamos nem por todo o ouro do mundo.
O príncipe respondeu:
— Deem-me, então, como presente, pois depois que a vi não posso mais viver sem ela. Vou honrá-la e tratá-la como se fosse minha amada.
Os bons anões, comovidos com o profundo sentimento do príncipe, se apiedaram dele e lhe entregaram o caixão. O príncipe mandou vir seus servos, a quem ordenou que pusessem o ataúde sobre os ombros e o transportassem. Mas aconteceu que tropeçaram em um arbusto e o solavanco desprendeu o pedaço de maçã envenenada alojado na garganta de Branca de Neve. Ela prontamente voltou à vida e exclamou:
— O que aconteceu, onde estou?
O príncipe, radiante de alegria, disse:
— Você vai ficar comigo. – E contou-lhe o que acontecera. — Eu te amo mais que tudo no mundo! Venha comigo para o castelo de meu pai, seja minha noiva!
Branca de Neve sentiu um grande amor pelo príncipe e partiu com ele. Em breve, as núpcias foram celebradas com enorme esplendor.
A perversa madrasta de Branca de Neve também foi convidada para a festa do casamento. Vestiu suas mais belas roupas, postou-se diante do espelho e perguntou:
— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
O espelho respondeu:
— Minha Rainha, sois muito bela ainda, mas a jovem rainha é mil vezes mais linda.
A malvada mulher soltou uma maldição e estava tão paralisada de raiva que não sabia o que fazer. No começo, não queria comparecer à festa de casamento. Mas resolveu ir e conhecer a jovem rainha.
Quando entrou no castelo, Branca de Neve a reconheceu no mesmo instante. A madrasta, ao perceber que se tratava da princesinha, ficou tão aterrorizada que não conseguiu ceder um centímetro dali. Sapatos de ferro já haviam sido aquecidos para ela sobre fogo em brasas. Foram levados por tenazes e colocados bem na sua frente.
A bruxa foi obrigada a calçar os sapatos de ferro em brasa e dançar em torno de si até, finalmente, cair morta.

Fonte: https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos/branca-de-neve-irmaos-grimm-1812
Cinderela
Era uma vez um homem abastado cuja esposa estava muito doente. Quando ela sentiu que seu fim estava próximo, chamou sua única filha para perto e disse:
— Filha amada, se fores boa e fizer suas orações fielmente, Deus sempre a ajudará e eu olharei por você do céu, assim estaremos juntas para sempre. – Então, ela fechou os olhos e expirou.
A moça visitava diariamente o túmulo de sua mãe e chorava. Nunca deixava de fazer suas orações. Quando o inverno veio e a neve cobriu o túmulo como um lençol branco e depois, quando o sol apareceu no início da primavera, derretendo-a, o homem rico casou-se novamente.
A nova esposa trouxe com ela duas filhas. Eram belas e formosas na aparência, mas tinham corações vis. Começaram tempos muito difíceis para a pobre moça.
— Essa pata-choca estúpida há de se sentar na mesma sala com a gente? – disseram as irmãs. — Para comer, deve ganhar seu pão. Volte para a cozinha que é o seu lugar.
Elas tiraram todos os vestidos bonitos da moça e no lugar deram-lhe um vestido velho e cinza. E para os pés, sapatos de madeira para o desgaste.
— A princesinha orgulhosa, agora, olhe, que miserável – riram.
Então, a mandaram para a cozinha. E lá foi forçada a fazer trabalhos pesados de manhã até à noite: levantar-se cedo antes do nascer do sol, buscar água, fazer o fogo, cozinhar e lavar. Além disso, as irmãs fizeram o máximo para atormentá-la. Zombando-a, jogavam ervilhas e lentilhas no meio das cinzas e a faziam buscá-las. À noite, quando ela estava cansada com o trabalho de seu árduo dia, não tinha cama para deitar-se e era obrigada a descansar ao lado da lareira, entre as cinzas. E como ela sempre parecia empoeirada e suja, foi chamada de Cinderela.
Um dia, o pai foi ao mercado e perguntou às suas duas enteadas o que queriam que ele trouxesse.
— Roupas finas! – respondeu uma delas.
— Pérolas e joias! – disse a outra.
— O que você deseja, Cinderela? – perguntou ele.
— Pai – disse ela —, traga-me o primeiro galho que se opuser a seu chapéu no caminho de volta para casa.
Então, ele comprou para as duas enteadas roupas finas, pérolas e joias. E no caminho de volta, enquanto cavalgava por uma faixa verde, um galho de avelã chocou-se contra seu chapéu. Ele o quebrou e o levou para casa. Quando chegou em casa, deu às enteadas o que tinha comprado e para Cinderela deu o galho de avelã. Ela agradeceu e foi para a sepultura de sua mãe. Lá plantou o galho, chorando tão amargamente que as lágrimas caíram sobre ele, embebedando-o, e assim floresceu e tornou-se uma boa árvore. Cinderela a visitava três vezes ao dia, chorava e rezava. Toda vez que um passarinho branco sobrevoava a árvore e Cinderela proferia qualquer desejo, o pássaro o realizava.
Neste ínterim, o rei ordenara que fossem convidadas todas as mulheres bonitas e solteiras daquele país para um festival que duraria três dias. A festa era para que seu filho, o príncipe, escolhesse uma noiva entre todas as moças. Quando as duas enteadas souberam que também foram convidadas, sentiram-se muito satisfeitas, chamaram Cinderela e disseram:
— Penteie o nosso cabelo, limpe nossos sapatos, abotoe nossas fivelas rápido; vamos para a festa no castelo do rei.
Quando ouviu isso, Cinderela começou a chorar, pois ela também gostaria de ir ao baile, então pediu permissão à madrasta.
— Ó, você, Cinderela! – disse ela. — Você que está sempre toda coberta de pó e sujeira, quer ir à festa? Como você pretende ir, sendo que não tem vestido nem sapatos?
Mas, como ela insistiu, finalmente a madrasta disse:
— Se você puder, em até duas horas pegar todas as ervilhas que caíram nas cinzas, poderá ir conosco.
A moça foi até a porta dos fundos que dava para o jardim e gritou:
— Pombas, rolinhas e todas as aves do céu, venham e me ajudem a pegar as ervilhas das cinzas. As boas coloquem no prato, as ruins joguem na plantação ou comam.
Em seguida, vieram à janela da cozinha duas pombas brancas, depois algumas rolinhas e por último uma multidão de todos os outros pássaros do céu; cantando e vibrando, desceram por entre as cinzas. As pombas assentiram com a cabeça e começaram a pegar – peck, peck, peck, peck –, depois todas as outras aves começaram a colher – peck, peck, peck, peck – e colocaram todos os bons grãos no prato. Antes de uma hora, estava tudo feito e voaram. Então, a moça trouxe o prato para a madrasta, sentindo-se contente e pensando que agora poderia ir à festa, mas a madrasta disse:
— Não, Cinderela, você não tem roupa adequada, você não sabe dançar e todos ririam de você!
E quando Cinderela começou a chorar, a madrasta acrescentou:
— Se você puder escolher em uma hora dois pratos cheios de lentilhas das cinzas, poderá ir conosco.
E a madrasta pensou consigo mesma: Ela não será capaz de apanhar tudo.
Quando a madrasta saiu, a moça foi até a porta dos fundos de frente para o jardim e bradou:
— Pombas, rolinhas e todas as aves do céu, venham e me ajudem a pegar as lentilhas das cinzas. As boas, coloquem no prato, as ruins joguem na plantação ou comam.
Então vieram à janela da cozinha duas pombas brancas, depois algumas rolinhas e por último uma multidão de todos os outros pássaros do céu; cantando e vibrando, desceram por entre as cinzas. As pombas assentiram com a cabeça e começaram a pegar – peck, peck, peck, peck –, depois todas as outras aves começaram a colher – peck, peck, peck, peck – e colocaram todos os bons grãos no prato. E antes da meia-hora, tudo foi feito e voaram novamente. Então a donzela levou os pratos para a madrasta, sentindo-se contente e pensando que agora ela deveria ir à festa, mas a madrasta disse:
— Você não pode ir conosco, pois você não possui nada adequado para vestir e não sabe dançar, você nos envergonharia.
Ela virou as costas para a pobre Cinderela e apressou as suas duas filhas orgulhosamente.
Como não havia mais ninguém na casa, Cinderela correu até o túmulo de sua mãe e, sob o arbusto de avelã, clamou:
— Árvore pequenina, balance seus galhos sobre mim, que a prata e o ouro venham me cobrir.
Então, o pássaro jogou um vestido de ouro e prata e um par de sapatos bordados com seda e prata. Apressada, ela colocou o vestido e foi para o festival. Sua madrasta e irmãs não faziam ideia de quem era a moça, pensavam que deveria ser uma princesa estrangeira, tão bonita em seu vestido de ouro. Cinderela nunca pensou que isso pudesse acontecer com ela, que estava sempre em casa, escolhendo as lentilhas e ervilhas das cinzas.
O filho do rei veio ao seu encontro, tomou-a pela mão e dançou com ela. Depois, recusou-se a dançar com qualquer outra moça e o mesmo fazia quando outros rapazes pediam para dançar com a donzela. Ele apenas respondia:
— Ela é minha parceira.
Dançaram até anoitecer. Quando a noite chegou, ela queria ir para casa, mas o príncipe disse que iria escoltá-la, pois esperava saber onde a bela moça vivia. Porém, ela conseguiu fugir e saltou para dentro do pombal. O príncipe esperou até que o pai de Cinderela chegasse, e disse-lhe que a donzela desconhecida havia desaparecido dentro da casa dos pombos. O pai pensou: Poderia ser Cinderela?
O pai pegou seu machado e colocou o pombal abaixo, mas não havia ninguém lá. Quando eles entraram na casa, lá estava Cinderela em sua roupa suja entre as cinzas, com óleo da lâmpada queimada em frente à lareira. Cinderela tinha sido muito rápida, saltando para fora do pombal e escapando de seu pai e do príncipe. Escondeu o vestido de ouro que usara atrás da árvore de avelã e o pássaro levou-o embora. Então, com seus trapos, sentou-se entre as cinzas na cozinha.
No dia seguinte, quando a festa começou de novo e os pais levaram suas meias-irmãs, Cinderela foi até a árvore de avelã e disse:
— Árvore pequenina, balance seus galhos sobre mim, que a prata e o ouro venham me cobrir.
Em seguida, o pássaro lançou um vestido ainda mais esplêndido do que o primeiro. E quando ela apareceu entre os convidados, todos estavam espantados com sua beleza. O príncipe estivera esperando; tomou-a pela mão e dançou com ela sozinho. E quando outra pessoa tentava convidá-la para dançar, dizia:
— Ela é minha parceira.
Quando a noite chegou, Cinderela queria ir para casa. O príncipe a seguiu, pois desejava saber a qual casa pertencia, mas ela fugiu mais uma vez e correu para o jardim na parte de trás da casa. Lá havia uma árvore bem grande, com peras esplêndidas, e ela pulou tão levemente entre os ramos que o príncipe não notou o que havia acontecido. Assim, ele esperou novamente até que o pai chegasse, disse-lhe que a moça desconhecida havia escapado dele e que acreditava que ela estava em cima da árvore de peras. O pai pensou: Não poderia ser Cinderela?
O pai pegou um machado e cortou a árvore, mas não havia ninguém nela. Quando entrou na cozinha, lá estava Cinderela entre as cinzas, como de costume, pois ela desceu pelo outro lado da árvore, levou de volta suas roupas bonitas para o pássaro da árvore de avelã e tinha posto suas velhas roupas novamente.
No terceiro dia, quando os pais e as irmãs partiram, Cinderela voltou à sepultura de sua mãe e disse para a árvore:
— Árvore pequenina, balance seus galhos sobre mim, que a prata e o ouro venham me cobrir.
Em seguida, o pássaro lançou um vestido como nunca fora visto, tão magnífico e brilhante, e os sapatos eram de ouro.
Quando ela apareceu com o vestido na festa, ninguém sabia o que dizer, tamanha a admiração. O príncipe dançou com ela sozinho e se qualquer um quisesse dançar com a moça, mais uma vez respondia:
— Ela é minha parceira.
Quando chegou a noite, Cinderela precisava ir para casa e o príncipe estava prestes a ir com ela, quando a moça correu tão rapidamente que ele não pôde segui-la. Mas ele tinha elaborado um plano e espalhou piche nas escadarias, de modo que, quando ela correu, seu sapato esquerdo ficou em um dos degraus. O príncipe pegou o sapato e viu que era de ouro, muito pequeno e delicado. Na manhã seguinte, ele foi até o pai de Cinderela e disse-lhe que ninguém deveria ser sua noiva senão aquela cujo pé no sapato de ouro se encaixasse. Em seguida, as duas irmãs ficaram muito felizes, porque tinham pés bonitos. A mais velha foi para o quarto para tentar colocar o sapato e a mãe foi com ela. Mas o sapato era pequeno demais e seu dedão não cabia, então, sua mãe entregou-lhe uma faca e disse:
— Corte o dedo do pé fora, pois quando for rainha, não precisará dele, já que nunca terá que andar a pé.
A menina cortou o dedo do pé fora, apertou o pé no sapato, engoliu a dor e desceu até o príncipe. Ele a levou em seu cavalo como sua noiva e partiu. Tiveram que passar pela sepultura da mãe de Cinderela. Lá estavam os dois pombos no arbusto de avelã, que clamaram:
Rôo crôo crôo, rôo crôo crôo,
O sangue escorre do sapato “Lá vão eles, lá vão eles!”
O pé é muito grande e muito largo,
Há sangue escorrendo;
Dê meia volta e leve a sua noiva verdadeira.
O príncipe olhou para o sapato e viu o sangue fluindo. Ele deu meia-volta com seu cavalo e voltou à casa da noiva falsa, dizendo que ela não era a verdadeira e que a outra irmã deveria experimentar o sapato. A irmã mais nova entrou em seu quarto, provou o sapato de ouro; os dedos dos pés ficaram confortáveis, porém o calcanhar era grande demais. Em seguida, sua mãe entregou-lhe a faca e disse:
— Corte um pedaço de seu calcanhar, pois quando for rainha nunca precisará andar a pé.
A menina cortou um pedaço de seu calcanhar, enfiou o pé no sapato, calou a dor e foi até o príncipe, que apanhou sua noiva. Subiram no cavalo e partiram. Quando passaram pela aveleira novamente, os dois pombos disseram:

Rôo crôo crôo, rôo crôo crôo,
O sangue escorre do sapato “Lá vão eles, lá vão eles!”
O pé é muito grande e muito largo,
Há sangue escorrendo;
Dê meia volta e leve a sua noiva verdadeira.
O príncipe olhou para o sapato e viu como o sangue fluía a partir do pé, as meias estavam completamente vermelhas de sangue. Ele voltou à casa da noiva mais uma vez e disse:
— Esta ainda não é minha noiva – disse ele. — Você não tem outra filha?
— Não – disse o homem –, minha falecida esposa deixou-me Cinderela, mas é impossível que ela seja a noiva.
Mas o filho do rei ordenou que ela fosse chamada, entretanto interveio a madrasta:
— Ó, não! Ela é muito suja para se apresentar.
Mas o príncipe insistiu e assim Cinderela tinha que aparecer.
Primeiro, ela lavou as mãos e o rosto até que ficassem completamente limpos, entrou e curvou-se diante do príncipe, que estendeu a ela o sapato de ouro. Ela se sentou em um banquinho, tirou do pé o sapato de madeira pesado e colocou o dourado, que se adequou perfeitamente em seu pé. Quando ela se levantou, o príncipe olhou em seu rosto e soube que aquela era a bela moça que dançou com ele, exclamando:
— Esta é a noiva certa!
A madrasta e as duas irmãs ficaram horrorizadas e empalideceram de raiva, mas o príncipe colocou Cinderela em seu cavalo e partiu. E novamente, passaram pela árvore de avelã e os dois pombos brancos falaram:
Rôo crôo crôo, rôo crôo crôo,
O sangue não escorre no sapato,
O pé não é muito grande nem muito largo,
Sua verdadeira noiva está ao seu lado.
Enquanto eles saíam, os pombos voaram e pousaram nos ombros de Cinderela, um à direita, outro à esquerda, e assim permaneceram.
Em seu casamento com o príncipe, as irmãs falsas compareceram na esperança de beneficiarem-se e, claro, para participar das festividades. Assim como num cortejo nupcial, foram à igreja; a mais velha entrou do lado direito e a mais nova à esquerda. Os pombos bicaram um olho de cada vez das duas irmãs, deixando-as completamente cegas. E foram condenadas a ficarem cegas para o resto de seus dias por causa de suas maldades e falsidades.

Fonte: https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos/cinderela-jacob-e-wilhelm-grimm-1812
Rapunzel 
Era uma vez um homem e uma mulher que há muito tempo desejavam inutilmente ter um filho. Finalmente, a mulher pressentiu que sua fé estava prestes a conceder-lhe o desejo.
Na casa deles, havia uma pequena janela na parte dos fundos, pela qual se via um magnífico jardim cheio das mais belas flores e das mais viçosas hortaliças. Em torno deste vasto jardim, erguia-se um muro altíssimo que ninguém se atrevia a escalar, porque tudo pertencia a uma temida e poderosa feiticeira.
Um dia, a mulher debruçou-se na janela e, olhando para o jardim, viu um pequeno canteiro onde era plantado rapunzel, um tipo de alface. As folhas pareciam tão frescas e verdes que abriram seu apetite e ela sentiu um enorme desejo de prová-las. Esse desejo aumentava a cada dia, mas ela sabia que jamais poderia comer daquele rapunzel. Até que começou a definhar e empalidecer. Então, o marido se assustou e perguntou:
— O que tens, esposa querida?
— Ah – ela respondeu —, vou morrer se eu não puder comer um pouco daquele rapunzel do jardim atrás de nossa casa.
O homem, que a amava muito, pensou: Preciso conseguir um pouco daquele rapunzel antes que minha esposa morra, custe o que custar!
Ao cair da noite, o marido subiu no muro, pulou para o jardim da feiticeira, arrancou às pressas um punhado de rapunzel e levou para sua mulher. Ela fez imediatamente uma saborosa salada e comeu ferozmente. Estava tudo tão gostoso, mas tão gostoso, que no dia seguinte seu apetite por ele triplicou. Então, o marido não viu outra forma de acalmar a esposa, senão buscar mais um pouco.
Na escuridão da noite, pulou novamente o muro. Mas assim que pôs os pés no jardim, ele foi terrivelmente surpreendido pela feiticeira que estava em pé bem diante dele.
— Como ousa entrar em meu jardim e roubar meu rapunzel como um ladrãozinho barato? – disse ela com os olhos chispando de raiva. — Há de sofrer por isso!
— Ó, por favor – implorou ele —, tenha misericórdia, fui coagido a fazê-lo. Minha esposa viu seu rapunzel pela janela e sentiu um desejo tão intenso que morreria se não o comesse.
A feiticeira se acalmou e disse-lhe:
— Se o que está dizendo é verdade, permitirei que leve tanto rapunzel quanto queira. Só imporei uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai trazer ao mundo. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe e nada lhe faltará.
O homem, em seu terror, consentiu com tudo. Quando a esposa deu à luz, a feiticeira apareceu pontualmente, levou a criança e deu-lhe o nome de Rapunzel.
Rapunzel cresceu e se tornou a criança mais bonita sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira a levou para a floresta e trancou-a em uma torre que não tinha escadas, nem portas. Apenas bem no alto havia uma pequena janela. Quando a velha desejava entrar, colocava-se embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da feiticeira, desenrolava suas tranças e prendia os cabelos em um dos ganchos da janela. Assim, as tranças caíam até o chão e a feiticeira subia por elas.
Depois de um ou dois anos, o filho de um rei estava cavalgando pela floresta e passou pela torre. Quando estava bem próximo, ouviu uma voz encantadora e parou para ouvir a bela melodia. Esta era Rapunzel, que em sua completa solidão passava seus dias cantando. O príncipe queria subir e procurou em volta da torre uma porta, mas nenhuma foi encontrada. Ele montou em seu cavalo e voltou para o castelo.
Sobretudo, o canto tinha tocado tão profundamente seu coração que passou a ir à floresta todos os dias, até a torre, para ouvir a doce voz. Certa vez, ele estava em pé atrás de uma árvore, quando viu a feiticeira e a ouviu clamando:
— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!
Então, a moça jogou as tranças e a feiticeira subiu até ela.
Se essa é a escada pela qual se sobe à torre, também tentarei eu subir, pensou ele.
E no dia seguinte, quando começou a escurecer, o príncipe foi para a torre e gritou:
— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!
Imediatamente, o cabelo caiu e o filho do rei subiu.
Assim que o viu, Rapunzel ficou terrivelmente assustada, pois nunca tinha visto um homem. Mas o príncipe começou a falar de forma muito gentil e cheio de sutilezas, bem como um amigo. Disse que seu coração ficou transtornado ao ouvi-la e que não teria paz se não a conhecesse. Então, Rapunzel se tranquilizou e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo.
Ele vai me amar mais do que a velha mãe Gothel, pensou Rapunzel. E colocando as mãos na dele, respondeu:
— Eu irei contigo de boa vontade, mas não sei como descer. Traga uma meada de seda cada vez que vier, e com ela vou tecer uma escada. Quando estiver pronta, eu descerei e poderá me levar em seu cavalo.
Combinaram que, até chegada a hora de partir, ele viria todas as noites, porque a velha sempre vinha durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel perguntou:
— Diga-me, mãe Gothel, por que é mais difícil içar a senhora do que o jovem filho do rei? Ele chega até mim em um instante.
— Ah, criança má! – vociferou a feiticeira. — O que eu a ouço dizer? Eu pensei que a tinha separado de todo o mundo e ainda você me traiu!
Em sua ira, agarrou as belas tranças de Rapunzel, envolveu-as em sua mão esquerda, pegou uma tesoura com a direita e, zip, zap, as tranças foram cortadas e caíram no chão. A mãe Gothel era tão impiedosa que levou a pobre Rapunzel para um deserto, onde ela teria de viver em grande sofrimento e miséria.
Porém, no mesmo dia em que expulsou Rapunzel, a feiticeira prendeu as tranças cortadas no gancho da janela. Quando o príncipe veio e chamou:
— Rapunzel, Rapunzel, jogue suas tranças!
Ela deixou o cabelo cair. O filho do rei subiu, mas não encontrou sua amada Rapunzel; em seu lugar aguardava a feiticeira com um olhar maléfico e peçonhento.
— Aha! – ela gritou zombeteira. — Veio buscar sua querida esposa? Mas o belo pássaro já não canta no ninho, a gata a pegou e vai riscar os seus olhos também. Rapunzel está perdida para ti, nunca mais irá vê-la.
O príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela da torre. Ele escapou com vida, mas os espinhos em que caiu perfuraram os seus olhos. Então, perambulou cego pela floresta; não comia nada além de frutos e raízes. Tudo o que fazia era lamentar e chorar a perda de sua amada.
Andou por muitos anos sem destino e na miséria. E finalmente chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na penúria, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina que haviam nascido ali.
Ouvindo uma voz que lhe parecia tão familiar, o príncipe seguiu na direção de Rapunzel e, quando se aproximou, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços a chorar. Duas de suas lágrimas caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe pôde enxergar novamente. Então, levou-a para o seu reino, onde foram recebidos com grande alegria e festas. Lá viveram completamente felizes por muitos e muitos anos.

Fonte: https://www.editorawish.com.br/blogs/contos-de-fadas-originais-completos-e-gratuitos/rapunzel-jacob-e-wilhelm-grimm-1812
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